Arquitetura e mecanismos deposicionais em sistemas aluviais holocênicos de clima árido no oeste argentino e comparação com depósitos neocretáceos brasileiros

Resumo

A Pré-Cordilheira, na região noroeste da Argentina, é caracterizada por feições geomorfológicas originadas do soerguimento miocênico que deu origem a Cordilheira dos Andes. O clima árido e o regime tectônico compressivo propiciaram a geração de inúmeras bacias sedimentares onde se desenvolveram depósitos aluviais e de lagoas efêmeras (playa-lakes). Por se tratar de ambientes ativos e recortados por drenagens fluviais atuais, essas bacias constituem importantes sítios de observação direta para análises das fácies e arquiteturas deposicionais aluviais, pela grande quantidade e qualidade de afloramentos. A descrição de alguns desses depósitos no Vale do Rio Jáchal (próximo à cidade de San José de Jáchal) e na planície aluvial do Deserto de Pie de Palo nas imediações de San Juan, permitiu identificar os principais mecanismos deposicionais atuantes nestes ambientes. Para isso foram selecionados afloramentos-chave dispostos em seções longitudinais aos sistemas de leques aluviais, onde se constatam interdigitações destes com depósitos de lagoas efêmeras (playa-lakes) e campos de dunas eólicas. Foram caracterizadas as geometrias internas e externas dos corpos sedimentares a partir da análise de superfícies hierárquicas e de macroformas que permitiram interpretar os processos sedimentares atuantes e a dinâmica deposicional. A variação faciológica encontrada entre os depósitos proximais e distais registra a evolução de fluxos de detritos não-coesivos (confinados ou não), para fluxos turbulentos e laminares, como resultado da diminuição de energia das correntes de enxurradas efêmeras de períodos de tempestade. Em virtude da baixa pluviosidade, da ordem de 70 mm/ano, a taxa de sedimentação também é muito baixa, atestada principalmente pelo desenvolvimento de vegetação arbustiva e formação de solos recentes. Embora a análise tenha sido feita em áreas restritas e com história sedimentar muito recente (Pleistoceno tardio ao Holoceno), a distribuição das fácies e os mecanismos deposicionais, condicionada pela posição geomorfológica no sistema de leques aluviais e as características sedimentológicas impostas pelo clima árido, servem como elemento de comparação com depósitos neocretáceos brasileiros, sobretudo os da Bacia Bauru, que apresentam características sedimentológicas e arquitetônicas semelhantes.