ESTUDO MICROTERMOMÉTRICO DOS FLUIDOS HIDROTERMAIS RELACIONADOS COM A MINERALIZAÇÃO AURÍFERA DE MONTES ÁUREOS, NW DO MARANHÃO

HUMBERTO SABRO YAMAGUTI, RAIMUNDO NETUNO VILLAS

Resumo


O depósito de Montes Áureos localiza-se na Zona de Cisalhamento Tentugal (ZCT), de natureza compressiva/ transpressiva, onde se encontram as rochas mais deformadas do Cinturão Gurupi. A ZCT, com aproximadamente 15 km de largura e 100 km de extensão, tem direção geral NW-SE e marca o limite sul-sudoeste do cráton São Luís. O depósito aurífero de Montes Áureos é hospedado por rochas metavulcanossedimentares do Grupo Gurupi, de idade paleoproterozóica, que foram deformadas em regime rúptil-dúctil e mostram associações minerais típicas das fácies xisto verde e anfibolito baixo. O ouro ocorre em veios e/ou vênulas de quartzo + carbonato tardi-tectônicos de espessura milimétrica a centimétrica (≤2 cm), que definem corpos lenticulares e tabulares com teores inferiores a 2 ppm subparalelos à foliação milonítica. Encontra-se associado com arsenopirita, pirita e, subordinadamente, com calcopirita, quartzo e carbonatos. As feições texturais e as relações entre as associações metamórficas e hidrotermais indicam que a mineralização ocorreu após o pico do metamorfismo, em pelo menos dois modos distintos e sucessivos: 1) grãos isolados coprecipitados com sulfetos, quartzo e carbonatos; e 2) em microfraturas da arsenopirita e pirita. O ouro teria sido transportado na forma de complexo de enxofre do tipo Au(HS)2 - em fluidos aquo-carbônicos de baixa salinidade (equiv. a 2-8% em peso de NaCl) e temperatura ≤450°C. A deposição deve ter ocorrido a temperaturas entre 260 e 350°C, com predomínio em torno de 300°C, confirmadas pelo geotermômetro da clorita hidrotermal. A pressão é estimada em 1,3-2,8 Kbar, eqüivalente a profundidades de 4-8,5 km. No sistema hidrotermal de Montes Áureos circularam fluidos carbônicos (CO2±CH4), aquo-carbônicos (H2O-NaCl-CO2±CH4±Mg e/ou Fe) e aquosos (H2O-NaCl±Mg e/ou Fe). Os fluidos aquo-carbônicos foram interpretados como produtos mais prováveis de reações metamórficas de desidratação e descarbonização que devem ter ocorrido principalmente nas variedades ricas em material carbonoso do pacote vulcanossedimentar, a temperaturas superiores a 500°C. Esses fluidos, inicialmente homogêneos, foram aprisionados em cristais de quartzo ao se tornarem imiscíveis e resultaram em inclusões fluidas com diferentes razões H2O/CO2. A diminuição da temperatura e, em decorrência, a menor produção de CO2 pelas reações de descarbonização, combinada com a precipitação dos carbonatos, tornaram os fluidos aquo-carbônicos gradativamente mais pobres em CO2 bem como mais aquosos e menos salinos. A infiltração e mistura com fluidos meteóricos não são descartadas, especialmente nos estágios finais da evolução do sistema. O contexto geotectônico regional, o controle da mineralização por zonas de cisalhamento, o tipo da alteração hidrotermal, a relação temporal entre o fluxo térmico máximo do metamorfismo e a alteração hidrotermal superimposta, a associação mineralógica do minério e as características físico- químicas dos fluidos mineralizantes são dados que permitem classificar o depósito de Montes Áureos como do tipo orogênico semelhante aos que ocorrem em terrenos metamórficos de blocos mesocrustais intensamente deformados.

Palavras-chave


Região de Gurupi; Zona de Cisalhamento Tentugal; Alteração hidrotermal; Inclusões fluidas; Mineralização aurífera.

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